Quem enterra o coveiro?
domingo, 25 de maio de 2008
Serial Killer
Quem enterra o coveiro?
terça-feira, 18 de março de 2008
Legado
Dirão por exemplo que uma árvore não tem alma, mesmo ela se desmembrando com o amor da fruta
Irão desconfiar de sua inquietude, mesmo que sua inquietude for fruto da desconfiança alheia
Caluniarão seu nome como se seu nome fosse substancia viva que acalanta o seu eu
Lembre-se: esqueça
Crie seu ritual de abstração
Dê a outra face ao impacto do tapa para que a vermelhidão simétrica da cara seja a vergonha de quem estapeia
Tateie sua superfície
Saboreie sua arquitetura
Invente movimentos para seu terreno até se quebrar, para que o milagre da destruição te regenere
Chore de tanto rir
Ria de tanto chorar
Lambuze-se
Ridicularize-se, ninguém zombará de você melhor do que você mesmo
Invente cores
Invente nomes
Invente invenções
Seja o deus que Deus te deu
Pronuncie verbos com gestos
Olhe nos olhos e apalpe uma alma
Ame com paixão de ódio
Distribua o seu instrumento mais intimo, até mesmo pra você é empréstimo
Beije na testa sua imagem no espelho
Exercite o impossível até que se torne provável, aí prove o contrário
Nunca se leve a sério em demasia
Invente uma oração para seu umbigo 3 vezes por semana até que ele saia de sua reentrância e lhe faça louvações egocentricas
Enlouqueça com imprecisão
Pratique uma insanidade logo pela manhã e estique seu chilique ao longo do dia
Faça algo detestável só pra sentir o gosto
Toque com carinho para gozar de sua ternura
Não dê ouvido aos Domingos
Faça vinagre de seu rancor e sirva a mesa
E nunca, em hipótese alguma, peças às estrelas aquilo que você deixou de pedir ao sol
E lembre-se: o difícil é fácil, o impossível é que é difícil
Crie seu próprio absurdo, a voz da razão não pertence a ninguém
Corra tão rápido a ponto de seu nome se desprender de você e cair, quem sabe ele não vira o nome da rua em que você se encontra?
sábado, 8 de março de 2008
Supermercado
-Foi ontem.
-Pela manhã?
-O dia todo.
-Perdi...Pegou um pedaço?
-Sim.
-Sobrou?
-Sim mas já esfriou. Pela temperatura está quase no meio dia de hoje, nada é para sempre...
-E a felicidade?
-Comprei um saquinho no final do corredor, mas vieram poucas.
-As minhas estavam vencidas...E quanto a esperança?
-Os olhos da cara! Ainda tenho um frasco.
-Meu farmacêutico confiscou minha receita, disse que eu estava abusando...
-Posso descolar um pouco das minhas pílulas.
-Obrigado, mas não funcionaria com os anseios que eu plantei. A não ser que...Você me aluga seus sonhos?
-Os eróticos eu posso até dividir, mas os de vida só me restaram 17% dele.
-E o resto?
-Chegou a realidade.
-Que bom!
-Você não entendeu: Na realidade a realidade que se tornou não eram os 83% que eram sonhos, a realidade formada reduziu meu sonho a 17% sem realizar os 83%, entendeu?
-Se vendesse realidade ninguém comprava.
-É por isso que é de graça, mas vem num pacote que ludibria os consumidores.
-Vende surrealidade?
-Só no mercado negro.
-ATCHIM!
-Qual o problema?
-Gripe.
-Mas gripe tem cura.
-Quando se trata de doenças nada tem cura, tem remendos.
-Mas pra gripe tem.
-Não, gripe tem intermitências, é diferente.
-Se gripe fosse esperança...
-E se esperança fosse gripe?
ATENÇÃO ATENÇÃO SUPER PROMOÇÃO DE ALÍVIO NO FINAL DO CORREDOR 20
-E aí tá com ânimo?
-Merda! Sabia que tinha esquecido alguma coisa...
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Preto no branco
sábado, 23 de fevereiro de 2008
haja dito haja feito (bendito era, bem feito seja)
Para evitar surpresas já anuncio que morri
desaprendi rezas básicas: aves marias, pais nossos, plurais postos em minha boca roxa
basfemo a efemeridade molecular que arquiteta as possessões
e me calo para poder beijar Deus na boca (só para emputecer fanáticos)
a linguagem não mora mais em mim
há verbos enforcados por minhas cordas vocais
minha língua já não serve de trampolim pra palavras.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Palavra final
Atitulado
Contemplávamos o silêncio
E dávamos nome aos bois sem dizer palavra:
Satã era o nome dado ao dedo indicador, entre outras coisitas más.
Deus era o nome dado aquilo que era e aquilo que não era dedo.
Eu era alguém que não podia ser porque havia
Eu não podia haver porque via
Eu era não.
Às vias de ser sei lá o quê.
Revezava: existir, assistir, essistir, axistir
Nos fundíamos.
Palavra era papel de bala
Era bala perdida ou a pele que revestia a jabuticaba
Boca era instrumento de sexo e não tinha nome porque não.
Letras foram as palavras que a gente destroçou com os dedos.
E não havia cola na nossa desconstrução, selávamos com cuspe nosso destrato.
Nossos corações eram largos e ainda assim vazavam
Nexo não dava idéia, dava frase.
A gente se construía em camadas.
Nos desembrulhávamos e nos jantávamos.
Nos desjejunjávamos.
Na alma
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
desmedido
Hoje as coisas não têm chão nem altura
O universo se abriu átomo adentro e espaço afora.
Hoje as coisas não têm mais cheiro.
Adivinham-se outras impressões.
Camadas.
Cores em fuga.
Algumas ressonâncias.
Sombras grudadas nas paredes são de extrema gravidade.
Gosto de pensar que certas coisas guardam suas potências em um segredo no futuro.
Ou num indefinível infinito.
No íntimo.
Exemplos:
A luz é quando se trata do fogo com paixão aérea.
Segredo é a palavra reverenciando o silêncio.
Intenção foi um gesto que se perdeu de vista, e por aí vai.
Uma vontade arrasta elementos pra fora do caos buscando respostas.
Hoje, eu
arrasto a metáfora até os limites da sinestesia, só para apalpar as cores.
Formigando
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Aprendi ou suponho que aprendi ou não
- Que as perguntas surgem no ócio, as respostas no fazer e o nenhum dos dois na tv.
- Que quando se trata de internet, quem vive a vida que navega, naufraga na vida que nega.
- Que efemeridade da beleza faz com que uma borboleta viva 24 horas, uma tartaruga 100 anos.
- Que os 99 anos, 11 meses e 29 dias que uma tartaruga tem a mais que uma borboleta, a torna mais bela que a borboleta. Ao perceber isso a tartaruga morre.
- Que o tempo pesa sem ter peso e é justo com todos por ser injusto com todos ao mesmo tempo.
- Que as propagandas de manteiga sem colesterol tomam muito tempo de vida.
- Que que é preferível um "Ufa, foi um pesadelo" do que "Droga, foi um sonho".
- Que a realidade deve ser dividida com 6 bilhões de pessoas, o que é surreal.
- Que atenção e intenção separam acidentes de homicídios.
- Que a revolução saiu das ruas e estão nas fórmulas de shampoo.
- Que Deus escreve certo por linhas retas e a gente distorce as coisas.
- Que homens e mulheres são diferentes apenas em um ponto: o crucial.
- Que é tão difícil matar mato quanto plantar orquídeas.
- Que relacionamento é igual hipermetropia, só se enxerga bem quando se está longe.
- Que a cobra é venenosa porque engole muito sapo.
- Que há duas maneiras de se tirar uma informação: uma é torturando, a outra não se importando.
- Que pessoas duas-caras escolhe a melhor delas para sair às ruas.
- Que as formigas não têm sindicato.
- Que a panela que encontra sua tampa oculta seu conteúdo.
- Que é melhor ter dois pássaros voando mesmo.
- Que para cada ligação peptídica é liberado outro assunto que eu desconheço.
- Que hoje a tarja preta da censura é bobagem e bunda.
- Que o quê faz o diet engordar menos é a ausência do peso na consciência.
- Que beleza não põe mesa, por isso tanta magreza na passarela.
- Que quem entende a sociedade melhor do que um sociólogo é um sociopata.
- Que o ditador Mao Tse-tung só não foi mais cruel por falta de bigode.
- Que a lei de Murphy não se aplica com requeijão.
Doce impacto
E o sol proclamou cada vida uma raça única em expansão, uma equação que dançava sobre a matemática viva.
E a ciência deitou na margem de um Deus desconhecido que derramou das catedrais.
Além dos portões que não havíamos visto, reinventamos o fogo e descobrimos na água sua verdadeira natureza num pacto de silêncio profundo.
Tempo era o nome dado ao vai e vem das cores que transportávamos pelas estações e era medido em soluços que ecoavam de nossos metais para se desmanchar universo afora.
A sombra dos deuses era de concreto e alta e aproximava e afastava o céu. Guardava em si os mistérios que se desvendou
Nossas vontades, agora puras, vasculhavam a intimidade das coisas por dentro e nosso trabalho era uma mistura de dança com algo que se desprendia no consentimento de nossos olhares.
Demos outras funções às nossas mãos. Funções abertas. Tocávamos e levávamos algo que não saía e as impressões cresciam e acumulavam-se por baixo de nossas peles.
Ofegante e sempre, misturando-nos.
inserto incerto
Gosto de ambigüidades do tipo: Hitler foi à Praga.
Efeitos que só funcionam no âmbito oral.
Como os beijos.