domingo, 22 de maio de 2011

Poema feito em algum lugar no ano 2000

Sou a antítese de tudo que existe
Sou a dimensão aberta
de um mundo em alerta
Sou o prefácio da vida
Sou o posfácio da morte
Sou teu azar
E tua sorte

Sou um detalhe no quadro
Que te deixa louco
O pouco torto
Que desnivela o todo

Sou o arrepio o da presa
e o acidente da pressa

Numa guerra fútil
sou teu fuzíl
E onde quer que pare
Repare: me viu.


Tenho de tudo um pouco
Nessa reza duvidosa
E de nada
Nada temo,
Porque até o tempo
Tenho também de sobra.

Sou a metamorfose de Kafka
Um outro monstro que aqui ficava
Sou o ciúme pelo irmão.
A fome pelo pão
Sou o epicentro da destruição
E o nome de Deus em vão.

Sou o sangue escorrido
O corpo morto erguido
A navalha que lhe abre o pescoço
Sou a fratura que expõe o osso

Sou a língua abrindo caminho
Pois sou Babel caindo

Sou aquele que rosna no seu armário
O defunto escondido entre o rosário
O sangue rubro que lhe aquece o nervo
O poema mal feito do bêbado.
O grande bezerro de ouro
Moldado em ouro de tolo
Grande, falso e cultuado.
Em wall street e no mundo todo.

Sou a serpente pecadora
Que te ensina a soma
Sou o coito forçado
o mal que vem disfarçado

A ação da esquizofrenia
Enquanto seu outro eu ria...

Eu sou o fim da rima
E o fim da poesia.