sábado, 22 de novembro de 2014

Proposta

Eu, que tantas vezes perdi o propósito da vida, já não posso mais viver sem você, Malu. Toda a minha vida (se é que eu posso promover à vida qualquer coisa da qual você não fizesse parte) foi apenas uma preparação para o seu encontro, (ou ao que parece, seu reencontro), sinto que você sempre esteve comigo em toda fase da minha vida e o meu despropósito era a falta que eu sentia de você desde a infância quando você em algum outro lugar no espaço e no tempo me servia de consolo e que sem saber, juntos dividíamos a melancolia, a lua e a televisão simutaneamente, sem sabermos da companhia oculta e latente um do outro.
Te amo pelos motivos que sei e pelos motivos que desconheço. Pela inacreditável série de eventos que vem acontecendo conosco desde que nos encontramos. Não posso te dizer que lembro de vc a todo momento, todo dia e toda hora, que vc emerge no meu pensamento sempre que eu vejo algo que sei que vc vai gostar, não fico lembrando que você existe a toda hora, simplesmente porque desde o momento em que te reencontrei em nenhum segundo eu deixei de pensar em vc para poder te esquecer e voltar a lembrar. E eu poderia me apaixonar por vc em qualquer época de nossas vidas. Assim como ja me apaixonei uma vez.
Gosto de ver a gente plantando pedaços do céu na terra e não imagino mais minha vida sem você colhendo comigo nesse latifúndio de nuvens que inauguramos e que começou de forma tão simples.
Não imagino mais minha vida sem o seu sorriso perfeito,
sem seu olhar de cumplicidade que diz muito,
sem as nossas conversas telepáticas,
sem a sua risada sincera de um só "Ha",
seu "tchau" duplo ao telefone, sendo o segundo um pouco mais acanhado do que o primeiro,
sem a forma leve que você dança e que faz com que a gravidade desembarace seus laços com a terra,
sem a sua mineirice,
sem a sua voz doce que por anos vem escupindo a delicadeza da sua boca e a maciez de sua língua,
sem imaginar em que mundo você está planando quando seus olhos se perdem às vezes dentro do teto branco,
sem vasculhar seus sonhos, seus desejos, seu passado, sua vida,
sem o seu senso de humor ingênuo,
sem você fingir não me ver quando te vejo passar.
Amo em você essas horas acumuladas, e vc em mim está em tudo, vc esta na parte clara da minha alma, no meu nó na garganta, na minha dor de cotovelo, na minha lágrima contida, nos meus cigarros junto à janela...
Amo simplesmente tudo em vc, vc é a meta da evolução e nada mais precisa ser feito pela natureza depois de ti. Amo até seu nome, Malu, gosto de saber que dentro dele está escondido o nome Maria, como se dentro de ti se reunissem todas as mulheres em segredo, ou como se vc fosse um grande e humilde milagre. Gosto de sentir que eu te protejo, de saber que pra te proteger do horóscopo, suportei o peso de Marte nas costas um dia, que conspirava contra a nossa harmonia, gosto de saber que nossas diferenças leves nos ampliam, que eu contemplava as formigas e vc subia em árvores e que desde então vc olha pra cima buscando luz e eu pra baixo me certificando da fundação do mundo, gosto de rever nossas histórias, de lembrar que um dia seu grito abafado caiu no vão do sofá que havia em casa, e foi levado com uma parte da sua angústia, e gosto de pensar que alguém um dia procurou por uma moeda perdida nesse vão e tomou um susto ao encontrar seu grito lá dentro. Me agrada lembrar que vc deu a luz a voce mesma como uma fênix, gosto de conhecer e de testar a sua força, gosto de imaginar que concebemos e estamos concebendo a Bela juntos, de lembrar que uma vez fomos buscar vc menina pra que vc pudesse me apresentar a ela e eu confiei em vc para te mostrar o menino por de trás da minha máscara.
Gosto também de perder a noção das horas ao seu lado, de saber que o tempo não existe na sua presença, que você é maior do que o relógio, e ao mesmo tempo que parece que estou à anos com vc parece que acabo de te conhecer, perderia a noção do tempo ao seu lado até se cada molécula do meu corpo fosse feita de quartzo. Gosto quando vc muda de tamanho, quando de repente cabe no bolso da minha camisa e no instante seguinte, assustada consigo dar um beijo em sua testa e te dizer com segurança que tudo está bem, que tudo sempre está bem e que até a experiência do medo é uma experiência admirável e válida, gosto de ter vc como cumplice de assassinato da Frida Khalo para que vc pudesse renascer sem dor a cada dia, e te provar por A mais B de que a morte não existe todavia. Gosto de ter cuidado com vc, de te tratar com uma tosca delicadeza, gosto da forma como vc fez de mim uma pessoa melhor e trouxe o melhor de mim a tona para que eu mesmo pudesse um dia morrer mais leve, reencontrado e com um perdão permamente de mim mesmo.

Não posso mais viver com a falta que eu sentia de você desde a infância quando você em algum outro lugar no espaço e no tempo me servia de consolo e por isso, assim como este pequeno pedaço de ouro, que emergiu da terra e cuja origem não conhecemos, fomos também assim como ele fundidos e renascidos num círculo, numa espiral crescente onde você me dá início para que eu possa te dar sequência num moto - contínuo, sem que eu saiba mais onde você me termina e onde eu te começo, numa aliança simples porém valiosa.
Dois círculos independentes que quando em contato um com o outro, inauguram o infinito.
E o infinito é a única coisa o que eu te peço agora.
Casa comigo?

Voldemort

-Chegou correspondência.
A porteira correu 1,5 m na minha chegada para me entregar esbaforida.
Itaú.
Olho e não tem meu nome. Tem um outro, que aqui chamo de Voldemort (do dicionário de magias do passado Harry Potteriano - aquele que não deve ser pronunciado), ex da Malu.
-Não sou eu.
Não é a primeira vez que eu digo isso a ela.
-Você não é "Voldemort"?
-Eu não sou Voldemort faz tempo.
-Mas então você tem que avisá-lo que...
-Eu não falo com Voldemort.
(Sempre me admirou a maturidade dos inimigos do James Bond de convidá-lo para o jantar antes de colocar ele numa esteira com uma eletro-serra que fará 007 virar 2 pedaços de 003,5, separados do prepúcio ao lóbulo frontal.)
-Mas aqui diz que é importante.
-Não pra mim.
-Mas...
-Me dá aqui!

□Mudou-se (opção já colocada por mim inumeras vezes)
□Não existe
□Viajando
□Endereço errado
□Blablabla
■Falecido

Porteira:
-Misericórdia....

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Eu e você

Vossa Mercê
Vosmercê
Você
Ocê


O outro está desaparecendo. Só "eu" é que nunca muda.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Meu calcanhar de aquiles
é dor de cotovelo,
esse nó na garganta
daquilo que comi com os olhos,
e que me faz das tripas coração.

Na minha autópsia só encontrarão ossos do ofício.

terça-feira, 4 de março de 2014

Sonhos

-Você me promete que se eu estiver sonhando alto você me segura?
-Não.
-Por que não?
-Porque precisamos voar alto, somos a vanguarda do mundo, apesar de quase extintos. Sonhos são o alicerce do paraíso que construimos em vida. Por que você tem medo de sonhar alto? Nós, os sonhadores é que estamos acordados enquanto todos dormem.
-Tenho receio de me frustrar com a realidade.
-Justamente por isso devemos sonhar.