quinta-feira, 16 de julho de 2015

Cigarro

Decidi parar de fumar definitivamente de novo, diferente da ultima vez em que prometi nunca mais colocar um cigarro no boca e comprei uma piteira. Acabo sempre voltando e quem me acompanha parar e subitamente me pega fumando de novo eu acabo dizendo "É que eu gostei tanto de ter parado de fumar que acabei voltando pra poder parar de novo.", mais para causar riso ao invés de uma repreensão do tipo "você precisa ter força de vontade...", como se esse valioso conselho fosse magicamente me livrar de anos de vicio. "Eu tenho muita força de vontade, amigo, o problema são as coisas que eu sinto vontade." Ou outro dos mais intimos e dogmáticos: "Você não está enganando a ninguém, só à você mesmo...", o que para mim é ótimo, porque ninguém vai me perdoar com mais facilidade do que eu mesmo. E além do mais, eu fico intragável quando paro de fumar. Com o perdão do trocadilho. O vicio, à propósito consiste em buscar sempre a primeira sensação de alguma coisa que se fez incontáveis vezes, a sensação nunca mais será a mesma, mas existe essa eterna busca pelo inédito dentro do mesmo. O cigarro para mim é um amuleto psíquico que me dá uma falsa sensação de segurança, muito provavelmente ligado à um coeficiente emocional muito fragilizado. Comparo ele à chupeta de uma criança de colo que fecha a lacuna de alguma angústia invisível, estou preso à minha fase oral. Outro "à proposito", inclusive fazendo um link: Cleyciane diz que fumar é fazer chupeta para Satanás. Ficar sem fumar pra mim me causa a sensação de que muita vida começa a entrar em meus pulmões e eu no fundo não sei administrar muita vida, "Meu Deus, o que eu faço com tanto oxigênio!? Onde vou gastar essa vida toda!?" Acho que essa sensação de muita vida me incomoda, não sei direito administrar tanta coisa assim, não sei se tenho competência para plenitudes desse tipo. Tinha diminuído para 5 cigarros diários que eu denominei "freio de mão da vida". Foi bom, me ajudou um pouco. Minha zona de conforto me incomoda, mas estar do outro lado, o lado da vida me assusta um pouco, confesso. Fumar me faz divagar sobre uma vida que não é minha a não ser em pensamento, sobre um futuro, um passado, ou um presente paralelo incrível, mas que de fato não é o meu, quando na verdade fumar me transforma numa figura muito triste que vi na minha infância num filme, um macaco velho que fumava cigarros, vício trazido obviamente por um ser humano que pretendeu humanizá-lo da pior forma possível (se é que existe uma forma boa no processo de humanização). O macaco acendia os próprios cigarros, e seus olhos melancólicos acompanhavam a fumaça que se quebrava pelas grades de ferro. A melancolia vinha de 2 prisões. E hoje eu sou esse macaco de olhar melancólico.
Fernando Sabino disse que os primeiros 10 anos de abstinência são os piores, fumei metade da minha vida, se ao menos soubesse quando eu vou morrer poderia calcular quando eu poderia parar. Poderia voltar com 60 anos, já estava nos meus planos começar a usar metanfetamina e LSD com essa idade mesmo. Dizem que o cigarro tira 8 minutos da nossa vida, mas isso é somado aos 5 minutos do tempo que se leva fumando um cigarro? Tira 3? Ou 13 minutos? Tem gente que diz também que fazer cigarros de cenoura ajuda. E o cú com a calça? Que lado que eu acendo a cenoura? Queria que alguém parasse de fumar junto comigo. Ver outro ser humano sofrendo sempre consola a gente.