domingo, 13 de setembro de 2015

Helena

Um dia você chega em casa cansado do trabalho e ouve uma frase que te transforma em 90 kg de vertigem, equilibrada sobre as 2 pernas de uma cadeirinha de plástico. "Estou grávida", só porque sua esposa parou de fazer contas e resolveu fazer figa.
Então em 9 meses você pensa em toda a sua vida, pensa que nunca mais vai conseguir ler um livro, andar de bicicleta, fazer um quadro, escrever um texto. Em 9 meses você se transforma em homem, você se transforma em mulher, você se transforma em criança, e aos poucos, lentamente,  começa a pensar que você ganhará uma amiga. Uma amiga com quem lerá junto, andará de bicicleta, fará desenhos e te dará motivos pra escrever. Até que uma noite a luz do corredor acende, a bolsa rompe, e uma criatura minúscula dilata sua realidade de uma forma que ela nunca mais poderá voltar ao tamanho que foi, cresce algo dentro do seu peito, e de forma tão imensa, que mesmo que essa coisa seja o contrário da dor, dói. E de repente você percebe que toda a sua vida você apenas existia e um dia, sem aviso nenhum, quando você menos espera, você nasce.

Em outras palavras, ter um filho é nascer fora de si.