domingo, 25 de setembro de 2011

ABOMINÁVEL MUNDO NOVO





Agradecemos sua visita, volte sempre, sorria você está sendo filmado, venha, volte, assista, compre, seja, junte, jogue, aposte, ganhe, tenha, olhe, corra, concorra, você não pode perder, mas espere! Venha, volte, veja, compre, tenha, seja, coma, suma, curta, adquira já o seu, preencha seu cupom, concorra, peça pelo número, pegue sua senha, veja, seja, vivo, claro, compre, troque, venda, tenha, invista, insista, vista, assista, use, abuse, volte pro final da fila, aguarde a liberação da guia, participe, ligue agora, inscreva-se, aliste-se, telemarketing, merchandising, Jesus Cristo, Anti-Cristo, Inri cristo, cartões plásticos, seios plásticos, sacos plástico, consolos plásticos*, armas de destruição em massa, vaselina, penicilina, prótese peniana, massageador de pés, vibradores elétricos, centrifugadores, DVDs players, implante capilar, andaimes, concreto armado, acetato, acetona, acrílico, éter, videogames, Coca Cola, R15, B25, D2, CPM22, R2D2, 69, Missa do galo, missa de sétimo dia, missa negra, dia da árvore, dia dos mortos, dia do alcoólatra regenerado, dia da masturbação mal intencionada, dia do dia, espaçonaves, tinta pro cabelo, anticoncepcionais, remédio pra depressão, remédio pra ereção, mercearia, mini mercado, supermercado, hipermercado, big, mega, bits, bytes, soft, hard, in, out, on, welcome, status, estátuas, propagandas de modess, propagandas de bancos, propagandas de carros, propagandas de margarinas sem colesterol, propagandas de aerossol que não matam seus filhos, só os insetos, cartões de crédito, o mundo é mais chato do que redondo, jornais estancando o sangue, a fila sem fim das caixas dos supermercados com os olhos mais tristes já vistos sob os convidativos cartazes de “Vem ser feliz”. E tudo e todos. Entre jovens putas que fazem da ofensa o oficio, entre monstruosas árvores metálicas que nascem do solo e abrem-se em diferentes logotipos, entre a flatulência dos ônibus, entre as cabeças baixas e entre a tensão dos olhos que evitam se cruzar. Entre o som e a fúria, entre a desconfiança, entre os edificios e sua sombria acumpuntura sobre a Terra que se erguem em profundos abismos, entre os "siga", "pare", "atenção" dentro das muralhas pelas quais nos fizemos cobaias, entre apertos de mão, assinaturas, rubricas, testemunhas, mão no peito, mão direita levantada, mão sobre a bíblia, impressões digitais, reconhecimento de firma, comprimentos secretos, polígrafos, sinistros rituais de suspeita confiança, estranhas estrelas muchas feitas do barro, do terno e da gravata, vagando a deriva sobre gigantescas placas tectônicas como formigueiros, ante o mistério gravitacional e rotativo do núcleo. Há então, entre o concreto, o plástico, os rituais, as formalidades, as comemorações, os vicios, há a vida que percorre lentamente através de tudo, dentro de todos, como uma antiga brasa de um fogo que se extingue...

Assim como Neruda também me canso de ser homem. Estou cansado. Atravesso impenetrável as cores e o desespero que anunciam o dia. Querendo ser sem buscar estar. Pacato e insatisfeito feito um cadáver. Entre as bancas de jornais que anunciam "Quem acontece"... Quem acontece? 
Acontece que não aconteço. 
Estou sempre em vias de... 
Prestes à...
Quase que... 
A espera de um convite que irei recusar.




*Será que as moscas fazem melhor uso dos excrementos do cão do que nós fazemos com o petróleo que o planeta defeca?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Assim como Neruda também me canso de ser homem. Estou cansado. Atravesso impenetrável as cores e o desespero que anunciam o dia. Querendo ser sem buscar estar. Pacato e insatisfeito feito um cadaver. Entre as bancas de jornais que anunciam "Quem acontece"... Quem acontece? Acontece que não aconteço. Estou sempre em vias de... prestes à...Quase que...
A espera de um convite que irei recusar.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Triste essa gente que faz coisa que não deve em troca de coisa que não precisa. Gente que se priva da vida após a morte por falta de essencia e que cultiva a morte em vida pra embelezar o invólucro. E tudo que oferece é o osso que corroe, a carne que apodrece, a tinta que escorre...

P(h)oder

Quando minha cachorra começa a me emputecer e eu perco a paciência, eu a ameaço e ela abaixa a cabeça e coloca o rabo entre as pernas. E eu me sinto poderoso como a Igreja Católica.

Outras vezes, só pra provocá-la enquanto eu estou comendo alguma coisa, por prazer mas mais por maldade, eu finjo que vou dar um pedaço pra ela e quando ela está prestes a abocanhar... a comida já está na minha boca. E eu me sinto poderoso como o Estado.

E ainda tem vezes que eu pego a bolinha que ela tanto gosta e fico lançando de mão em mão, de pessoa a pessoa, sem com que ela consiga sequer chegar perto dela. Eu me sinto poderoso como a Alta Sociedade.

Mas quando eu passeio com ela algumas vezes e ela diminue os passos e as patinhas traseiras se dobram e ela defeca sem licença nem cerimônia e eu, humildemente me ajoelho e recolho os excrementos da pobre coitada... Nessas vezes, meu amigo, nessas vezes eu me sinto ordinário como um ser humano.

domingo, 22 de maio de 2011

Poema feito em algum lugar no ano 2000

Sou a antítese de tudo que existe
Sou a dimensão aberta
de um mundo em alerta
Sou o prefácio da vida
Sou o posfácio da morte
Sou teu azar
E tua sorte

Sou um detalhe no quadro
Que te deixa louco
O pouco torto
Que desnivela o todo

Sou o arrepio o da presa
e o acidente da pressa

Numa guerra fútil
sou teu fuzíl
E onde quer que pare
Repare: me viu.


Tenho de tudo um pouco
Nessa reza duvidosa
E de nada
Nada temo,
Porque até o tempo
Tenho também de sobra.

Sou a metamorfose de Kafka
Um outro monstro que aqui ficava
Sou o ciúme pelo irmão.
A fome pelo pão
Sou o epicentro da destruição
E o nome de Deus em vão.

Sou o sangue escorrido
O corpo morto erguido
A navalha que lhe abre o pescoço
Sou a fratura que expõe o osso

Sou a língua abrindo caminho
Pois sou Babel caindo

Sou aquele que rosna no seu armário
O defunto escondido entre o rosário
O sangue rubro que lhe aquece o nervo
O poema mal feito do bêbado.
O grande bezerro de ouro
Moldado em ouro de tolo
Grande, falso e cultuado.
Em wall street e no mundo todo.

Sou a serpente pecadora
Que te ensina a soma
Sou o coito forçado
o mal que vem disfarçado

A ação da esquizofrenia
Enquanto seu outro eu ria...

Eu sou o fim da rima
E o fim da poesia.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Quem sou


Tenho 0,25 de astigmatismo no olho esquerdo e 0,50 no direito (o que aliás me deixa prostituto da vida, por que eu tenho problemas com assimetria), tenho 115 de Q.I., segundo um teste seríssimo realizado pela internet, sou letárgico e confuso, sofro de transtorno obsessivo compulsivo, mas estou me tratando, para quem não sabe é aquela doença que faz com que você pareça estar assentando azulejos portugues ou pulando amarelinha na maior parte do seu tempo por que senão alguém querido morre, nas horas vagas eu vivo. Tenho fobia social (também conhecido como "caipirice patológica"): se eu falo em público minha traquéia começa a fechar e eu começo a morrer...
Meu equilibrio emocional sofre de labirintite.
Sou desastrado, coordeno meus movimentos tão bem quanto coordeno um trator.
Quando estou sozinho tento mover as coisas com o poder da mente (embora tenha parado depois de quase sofrer um aneurisma), mas acredito que Deus não daria um poder desses para uma pessoa como eu, eventualmente eu acabaria usando pra fazer graça num happy-hour qualquer...
Vivo dando bola fora e só percebo isso quando me contam ou quando surgem as consequencias, as vezes sinto que ganhei meu bom senso como premio de consolação em uma partida de bingo de 5ª. Tenho dislexia e "lápsos" de disturbio de concentração, sou acrofóbico. Estou com depressão pós-parto, nunca mais fui o mesmo desde quando minha mãe deu a luz a mim.
Fiz 3 anos de escola de futebol e só marquei um gol (contra), acabei sendo promovido gandula, eu não nasci pra viver.
Sou o tipo de pessoa que meus pais falam pra eu não andar junto. Odeio futebel, adoro história, literatura, arte, poema, enfim, acho que vou devolver meu pinto pra Deus, por que eu não tô mais conseguindo ser homem. Minha infancia foi razoavelmente infeliz (pelo menos é assim que eu me lembro dela) e meu maior medo quando era criança era de insetos parasitas em particular do Barbeiro, se pudesse passava a infância com uma roupa de apicultor, não possuo uma auto-estima exemplar, sou paranóico e possuo diferentes tipos de neuroses. Adoro crianças, embora elas tenham medo de mim (e eu delas). Converso com objetos inanimados e comigo mesmo mais do que com pessoas e ocasionalmente acho que estou com alguma doença séria, mas não sou hipocondriaco, hipocondria não é doença séria. Não gosto o bastante de mim para sentir pena de mim mesmo. Costumo confundir creme de leite com leite condensado e um dos maiores mistérios da vida pra mim é saber se devo ou não devo dar gorjeta pro sacoleiro no supermercados e por que plano de saude não cobre tomografia. Tenho pânico de 3 frases que eu espero nunca ouvir na vida: "Eu não te amo mais...", "você está preso..." e "é maligno..." e até pouco tempo atrás "acabou a cerveja".
Tenho um grande medo da morte, morrer é a última coisa que eu quero na vida e ela só vai me levar por cima do meu cadaver!
Odeio piadas sobre "pavê", conversas sobre o clima, pessoas que dizem uma verdade irrelevante sobre outra e ainda quer pagar de genuína e diz "desculpa aí pela honestidade" quando na verdade foi um babaca, filmes cujo protagonista é um cachorro, filmes cujo protagonista é um cachorro que FALA!
Minha meta na vida é poder transformar meus problemas em experiencias, mas são minhas experiencias que se transformam em problemas.
Mas apesar dos pesares sou feliz quando me permito e a vida algumas vezes é insuportavelmente maravilhosa, apesar de que na maioria das vezes pareça mais um concurso de idiotas (não que eu também não esteja participando).
Minha vida é, na medida em que Deus permite, do jeito que o Diabo gosta...
Sou uma pessoa irritantemente legal, mas já me peguei sendo egoista, arrogante, mentiroso, prepotente, me achando melhor do que muita gente. Gente da qual sou farinha do mesmo saco. E hipócrita. Mas quem me disser que nunca foi estará sendo de novo assim que terminar a frase.
E por fim, procuro uma mulher com a auto-estima parcialmente dilacerada, alguém com quem eu me sinta 89% à vontade e que fique bem de moleton para relacionamento sério...

Ou... talvez eu não seja nada disso. 

Talvez eu esteja preso a uma lembrança, como a uma carapuça carcomida pela acidez da memória de algum outro que fui. Mas o que importa neste momento inevitável em que nos encontramos é saber:
E você? Quem você pensa que você é?