sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Preto no branco
sábado, 23 de fevereiro de 2008
haja dito haja feito (bendito era, bem feito seja)
Para evitar surpresas já anuncio que morri
desaprendi rezas básicas: aves marias, pais nossos, plurais postos em minha boca roxa
basfemo a efemeridade molecular que arquiteta as possessões
e me calo para poder beijar Deus na boca (só para emputecer fanáticos)
a linguagem não mora mais em mim
há verbos enforcados por minhas cordas vocais
minha língua já não serve de trampolim pra palavras.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Palavra final
Atitulado

Contemplávamos o silêncio
E dávamos nome aos bois sem dizer palavra:
Satã era o nome dado ao dedo indicador, entre outras coisitas más.
Deus era o nome dado aquilo que era e aquilo que não era dedo.
Eu era alguém que não podia ser porque havia
Eu não podia haver porque via
Eu era não.
Às vias de ser sei lá o quê.
Revezava: existir, assistir, essistir, axistir
Nos fundíamos.
Palavra era papel de bala
Era bala perdida ou a pele que revestia a jabuticaba
Boca era instrumento de sexo e não tinha nome porque não.
Letras foram as palavras que a gente destroçou com os dedos.
E não havia cola na nossa desconstrução, selávamos com cuspe nosso destrato.
Nossos corações eram largos e ainda assim vazavam
Nexo não dava idéia, dava frase.
A gente se construía em camadas.
Nos desembrulhávamos e nos jantávamos.
Nos desjejunjávamos.
Na alma
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
desmedido
Hoje as coisas não têm chão nem altura
O universo se abriu átomo adentro e espaço afora.
Hoje as coisas não têm mais cheiro.
Adivinham-se outras impressões.
Camadas.
Cores em fuga.
Algumas ressonâncias.
Sombras grudadas nas paredes são de extrema gravidade.
Gosto de pensar que certas coisas guardam suas potências em um segredo no futuro.
Ou num indefinível infinito.
No íntimo.
Exemplos:
A luz é quando se trata do fogo com paixão aérea.
Segredo é a palavra reverenciando o silêncio.
Intenção foi um gesto que se perdeu de vista, e por aí vai.
Uma vontade arrasta elementos pra fora do caos buscando respostas.
Hoje, eu
arrasto a metáfora até os limites da sinestesia, só para apalpar as cores.
Formigando
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Aprendi ou suponho que aprendi ou não
- Que as perguntas surgem no ócio, as respostas no fazer e o nenhum dos dois na tv.
- Que quando se trata de internet, quem vive a vida que navega, naufraga na vida que nega.
- Que efemeridade da beleza faz com que uma borboleta viva 24 horas, uma tartaruga 100 anos.
- Que os 99 anos, 11 meses e 29 dias que uma tartaruga tem a mais que uma borboleta, a torna mais bela que a borboleta. Ao perceber isso a tartaruga morre.
- Que o tempo pesa sem ter peso e é justo com todos por ser injusto com todos ao mesmo tempo.
- Que as propagandas de manteiga sem colesterol tomam muito tempo de vida.
- Que que é preferível um "Ufa, foi um pesadelo" do que "Droga, foi um sonho".
- Que a realidade deve ser dividida com 6 bilhões de pessoas, o que é surreal.
- Que atenção e intenção separam acidentes de homicídios.
- Que a revolução saiu das ruas e estão nas fórmulas de shampoo.
- Que Deus escreve certo por linhas retas e a gente distorce as coisas.
- Que homens e mulheres são diferentes apenas em um ponto: o crucial.
- Que é tão difícil matar mato quanto plantar orquídeas.
- Que relacionamento é igual hipermetropia, só se enxerga bem quando se está longe.
- Que a cobra é venenosa porque engole muito sapo.
- Que há duas maneiras de se tirar uma informação: uma é torturando, a outra não se importando.
- Que pessoas duas-caras escolhe a melhor delas para sair às ruas.
- Que as formigas não têm sindicato.
- Que a panela que encontra sua tampa oculta seu conteúdo.
- Que é melhor ter dois pássaros voando mesmo.
- Que para cada ligação peptídica é liberado outro assunto que eu desconheço.
- Que hoje a tarja preta da censura é bobagem e bunda.
- Que o quê faz o diet engordar menos é a ausência do peso na consciência.
- Que beleza não põe mesa, por isso tanta magreza na passarela.
- Que quem entende a sociedade melhor do que um sociólogo é um sociopata.
- Que o ditador Mao Tse-tung só não foi mais cruel por falta de bigode.
- Que a lei de Murphy não se aplica com requeijão.
Doce impacto
E o sol proclamou cada vida uma raça única em expansão, uma equação que dançava sobre a matemática viva.
E a ciência deitou na margem de um Deus desconhecido que derramou das catedrais.
Além dos portões que não havíamos visto, reinventamos o fogo e descobrimos na água sua verdadeira natureza num pacto de silêncio profundo.
Tempo era o nome dado ao vai e vem das cores que transportávamos pelas estações e era medido em soluços que ecoavam de nossos metais para se desmanchar universo afora.
A sombra dos deuses era de concreto e alta e aproximava e afastava o céu. Guardava em si os mistérios que se desvendou
Nossas vontades, agora puras, vasculhavam a intimidade das coisas por dentro e nosso trabalho era uma mistura de dança com algo que se desprendia no consentimento de nossos olhares.
Demos outras funções às nossas mãos. Funções abertas. Tocávamos e levávamos algo que não saía e as impressões cresciam e acumulavam-se por baixo de nossas peles.
Ofegante e sempre, misturando-nos.
inserto incerto
Gosto de ambigüidades do tipo: Hitler foi à Praga.
Efeitos que só funcionam no âmbito oral.
Como os beijos.