quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Ontem, voltando pela Bandeirantes na madrugada fiquei na expectativa de ver a chuva de meteoros.
Saído de São Paulo, onde o quadro negro apagado do zodíaco do céu não se desenha nem mais um triângulo quando se liga as estrelas numa reta; em direção à Campinas, onde se pode desenhar um trapézio.
Vim imaginando o que se podia imaginar ao ver uma chuva de meteoritos. Que ela me daria empolgação suficiente pra afugentar o sono, e ao mesmo tempo abriria todas as portas do sonho e da imaginação. Seria restos de um planeta que foi desfeito, ou será que é um planeta sendo montado? Preciso dizer a minha filha que quando ela plantar bananeira, ela vai carregar o mundo nas mãos. Preciso me lembrar disso acima de todas as coisas.
Iria me esquecer do dia, das más notícias, de Bolsonaro, da morte do Prince, da ciclovia que desabou, das mulheres belas, recatadas e do lar, da reunião de terça com gente que me desagrada.
Estava vendo o que viria, uma chuva de luzes sem cálculo de rota, sem watts de luzes, sem diâmetro ou velocidade, apenas chuva de luzes, uma minúscula parte de mistério infinito. E a mãe de todos os sonhos: se é universo é infinito como se expande?
E iria passar como passou o cometa Harley na minha infância, onde meu pai me pegou e me levou até a frente de casa com minha mãe. Iria passar como aquela estrela vermelha que vi no dia do nascimento do meu irmão, Bruninho, "aquela estrela é marte", disse minha mãe, e fiquei estremecido.
E quando passasse iria durar por um tempo indefinível, frações de segundos, 30 anos, uma vida; aquele momento em que a linha reta no céu vai perdendo a luz, e você já não sabe se aquele espectro fino que vai sumindo ou já sumiu, é um evento que pertence ao céu ou ao olhar.

Não vi o evento, não sei se perdi a chuva ou se choveu por dentro.

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