terça-feira, 28 de abril de 2015

A caminho de Tiradentes

Um curto registro de viagem:

Saimos com um peso e uma leveza pouco depois do almoço que não tivemos.
Com a percepção clara de que amamos e somos amados e com todo o sentido da vida nisso.

Paramos em Congonhal, na beira da estrada e comemos pasteis. A fuligem dos caminhões enegreceu o logo de Coca Cola da fachada, Malu pediu uma coca a propósito, que veio com o nome "Ezequiel", e eu tive a sensação de que a viagem ou talvez a vida nossa nessa viagem seria abençoada.
Malu nem se atentou a isso, ex-batista (ou batista enrustida), nunca conheceu a bíblia profundamente, nem sabia que Jesus já deu piti na feira.

Seguimos viagem e adentramos 3 Corações, onde fomos recebidos por uma estátua ridicula de Pelé. Talvez para dar mais realismo ao rei.

Paramos num posto de gasolina onde havia um restaurante já vazio de caminhoneiros, e o som de animais sendo abatidos ao fundo.
No caixa havia facas, canivetes, pecheiras à venda somadas a diversos tipos de revistas pornograficas, "Penthouse", "Brazil", e uma nova (?) de fotonovela chamada "Mais Prazer". Talvez para reafirmar que os homens não devam confiar em outros homens e as mulheres não devam confiar em homem algum.

Tive uma ideia de fazer um quadro em camadas de vidro 3d com recortes de revistas pornograficas com a imagem de Nossa Senhora, mas a cara de espanto e vergonha da Malu fez com que eu fosse fofamente censurado e engavetasse o projeto quando eu dividi a ideia com ela.

Lavras é horrível, e a estrada até Tiradentes é péssima, "Ezequiel" somado aos buracos da rodovia havia  se transformado numa grande queimação no meio do meu peito.

Um desenho de Jesus Cristo no parachoques de um caminhão que levava bois quase me fez bater o carro, talvez pela blasfêmia que eu havia feito com Sua mãe pela ideia do quadro. Desculpe, Senhor, nem sempre eu sei o que faço.

Terminando a via sacra, próximo a Tiradentes, as nuvens estavam baixas, talvez porque o céu quisesse ver de perto o que havia de mais sagrado e divino nessa terra, o que eu mesmo ainda não pude ver pessoalmente, as obras de Aleijadinho.

O relato é simples, mas escrever é uma maneira de ser mais leve, escrever é um maneira de esquecer. Escrever é um apêndice de lembrar.

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