terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Sonhos

Estava em uma casa escura, com tons marrons e azuis escuros, luzes de amarelo claro contornavam pouco as paredes de forma aleatória. A casa tinha poucos cômodos, uma parte bem iluminada era um banheiro lateral que ficava rente à parede onde um criado mudo sustentava uma televisão sem sintonia, que chamuscava luzes avulsas sobre a quase escuridão do todo. Por esse banheiro vi passar uma criança de talvez 7 anos, morena, sem camisa e de bermuda, havia uma família simples nesse cômodo gigantesco de uma casa pequena, era a casa dela.

-Acontece coisas estranhas aqui - me confessou a mãe.

E de fato acontecia. Objetos se moviam sem ajuda de nada, objetos pequenos, pentes, controles remotos, não sabia exatamente o que eu estava fazendo lá, se fui convidado para ajudar de alguma forma ou se entrei por acidente. Mas o fato é que a casa estava tomada por alguma coisa que a preenchia por inteira, como se fosse a própria alma da casa, alguma coisa que não deveria ser, ser no sentido de existir.

De repente as luzes se acenderam, agora eram brancas, e fui agarrado por alguma coisa muito forte, mas sem corpo, primeiro pelos pulsos depois pela testa e jogado sobre uma cama de colchão mole, o que dificultou ainda mais minha reação, e quando pude perceber minhas pernas também estavam imobilizadas, alguma, ou mais provavelmente, algumas coisas, estavam me prendendo completamente e eu senti aos poucos me perdendo de mim. O que me agarrava já não me agarrava por fora, mas por dentro do meu corpo, como se minha biologia fosse dividida por duas vontades: a minha que se esvaia, e a outra que se alastrava. O que antes segurava meu pulso era o que agora controlava minha musculatura, o que segurava minha testa, agora contorcia meus olhos, as pernas que já foram minhas já não eram mais. Desesperado e completamente dominado minha única saída agora era pra fora do sonho. Na cama, onde estava meu corpo real, fora do sonho se contorcia também, e eu perdido nesse limbo, sem controle do meu mundo real com meu corpo real, ainda não completamente desperto, e no meu mundo do sonho sendo devorado por dentro e me perdendo cada vez mais de mim por entidades demoníacas. Até que aos poucos fui rastejando desta invasão para o meu consciente desperto. Mas o mais curioso disso ainda estava por vir. Quase desperto senti de forma lúcida o edredom que cobria minha perna sendo puxado para cima, confesso que tudo ocorreu de forma rápida e que eu também estava me remexendo muito por conta do ataque, mas meu movimento no momento não justificaria o edredom sento puxado a ponto de descobrir minha perna, e a Malu que dormia ao meu lado não se mexia, apesar de que mais tarde percebi que ela também teve um sono inquieto, mas vamos considerar a possibilidade que ela se mexeu para não abrir mais um mistério, além do que aquele que eu ainda vou lhes contar. Antes disso também pude ver que havia vultos passeando freneticamente entre o corredor do nosso quarto quando estava quase ou talvez já desperto, mas também podemos considerar que isso foi um resquício do meu sonho, afinal eu não tive tempo de saber o que havia acontecido com a família que estava na casa.

Pela manhã, ao acordar depois de finalmente ter dormido outra vez e de ter sonhado outros sonhos, envolvendo Poços de Caldas, uma escadaria feita de grades bem espaçadas e a busca, quase no final do sonho, de uma mulher chamada Áurea, que na vida real eu conheço, mas que no sonho não consegui encontrar a tempo antes de acordar.

A Malu acordou e conversamos sobre os nossos sonhos. Contei apenas o primeiro, por achar pouco importante o segundo, e foi então que ela me confessou que durante meu sonho ela chegou a acordar e se espantou comigo falando enquanto dormia, uma outra língua, perguntei a ela se era realmente uma outra língua ou se eu simplesmente balbuciei alguma coisa, ela então tentou imitar o que eu falei e não era um balbuciar. Era uma linguagem clara apesar de desconhecida pra mim e num tom bastante audível, com dicção baseada mais na base da língua do que nas cordas vocais, a principio pensei se tratar de hebraico apesar de não ter o “r” arrastado, mas não tenho conhecimento para afirmar nada, nem para supor.

E então ela me contou sobre o seu sonho: ela se encontrava numa casa em Poços de Caldas que a principio estava vazia, onde começou a conversar normalmente com uma cabeça putrefata sem corpo, mais tarde, a mesma casa estava em festa com muitas pessoas e dentre essas pessoas ela encontrou uma professora que estimava muito na faculdade e que nunca mais encontrou. Seu nome era Áurea.

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